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Rinha de gente

Marilia Alves Cunha

Não conheço o cenário de uma rinha de galos, nem quero conhecer. Já ouvi falar: uma arena com arquibancadas em volta. Na arena, os galos em disputa, lá em cima a “torcida” empolgada, ansiosa por sangue. Na arena os galos se digladiam, enfeitados para a morte ou doloroso sofrimento com equipamentos mutilantes. Lá em cima os marmanjos em pura diversão, aplaudindo histéricos, mórbidos e sem complacência as cenas brutais. Dizem alguns, talvez para redimir-se: os galos gostam de briga. Conversa fiada! Nenhum deles encaminhou-se sozinho à rinha, nenhum deles valeu-se do arbítrio para entrar na arena. Nenhuma deles negociou a luta ou teve seu quinhão nos lucros. Restou-lhes a morte, o sofrimento a dor, a humilhação, a fuga impossível.

As pessoas, muitas delas, vão ao circo e encantam-se com os animais. É divertido, não é? O macaco, urso, elefante, leão, tigre, animais selvagens, todos dominados. Dançam, sentam-se em minúsculos banquinhos, atravessam círculos de fogo, pulam corda, só faltam falar. Que gracinha! Estas gracinhas custam caro aos animais. O sofrimento começa no momento em que são retirados do seu habitat, transportados de qualquer jeito, retirados de suas famílias, enjaulados, acorrentados, comprados não se sabe de quem, por certo no tráfico de animais. Para fazer as gracinhas que os humanos tanto apreciam, precisam de treinamento brutal. Afinal, não nasceram vocacionados para a vida circense e nem para carregar gente no lombo, enfeitados e engalanados de maneira ridícula. São submetidos então a processos violentos de treinamento: chibata, fome, medo, choques, açoites, queimaduras, cutucadas com bastões pontiagudos de ferro. Sabem o que li dia desses? Que os ursos, para aprender a dançar, todos enfeitadinhos de “toutou” e flor na cabeça, são colocados sobre chapas incandescentes que queimam suas patas, condicionando-os a dar aqueles pulos (dança?) que aplaudimos maravilhados... Alguns têm seus dentes e garras extirpados e sofrem mil e uma atrocidades para alegrar e divertir esta grande raça humana.

Preferimos esquecer que o animal é feito de carne, osso, nervos, sentimento, emoção. Que Deus fez a natureza e somos parte dela, jamais seus donos e que a harmonia de tudo que a compõe é essencial para o futuro do Planeta. Deus colocou em nossas mãos um tesouro para que usemos na medida de nossas necessidades e não na medida de nossa maldade, irresponsabilidade e inconsequência.

Abraham Lincoln, o grande presidente americano, assim pronunciou-se sobre o assunto: “Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais”. E o gênio Leonardo da Vinci também se referiu aos animais: “Chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo dos animais e nesse dia um crime contra um animal será um crime contra a humanidade”.

Mas afinal de contas, minha gente, o que é uma rinha de galos frente a esta enorme rinha em que o mundo transformou-se, rinha de gente briguenta, que não se entende, de muitas línguas, de muitas religiões, zona de insensibilidade, ambições e insensatez, seres humanos perdidos e mergulhados na miséria de seus próprios sentimentos.

8 comentários:

  1. Marília, este teu desabafo é o mais completo já visto por mim em tão curto espaço. Os galos realmente têm um instinto de briga até a morte como parte de sua índole. Não sei como conseguem ser tão violentos com tão poucas armas. Sei disso porque meu cunhado e vizinho deu-se a criar, no fundo do quintal, algumas galinhas como simples passatempo e o colher de ovos. Não se come nenhuma cabeça, são de estimação e alimentadas na mão. Com isto, a não matar os frangos e comer com pequi, todos vão virando galos, até que chega um dia que o sangue escorre pra valer. Enquanto os galos não começam a guerra, quem sofre são as galinhas, pois a virilidade dos galos é estupenda e as galinhas não são assim tão galinhas. O quintal é um "randevu". Outro dia teve que doar cinco galos, mas tem mais pra doar em breve. A única exigência para quem quiser levar um galo é a promessa de não fazê-lo coxinhas.
    Eu também gosto muito dos animais como o "Da Vinci" e se caso surgir a gripe canina, com certeza, eu serei o paciente zero.

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  2. Às vezes a gente desanima.Tantas pessoas que lutam há anos pela proteção dos animais e vem a Globo e mostra pessoas comendo peixes vivos e pintinhos em formação dentro dos ovos, além de mostrar galinhas sendo mortas. Eu sei que a maioria das pessoas são carnívoras, mas mostrar essas cenas só alimentam ainda mais a violência gratuita contra os animais.
    Belo texto e bem apropriado para este nosso tempo.

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  3. Belíssimo texto e de uma sensibilidade ímpar! Somente poderia vir de uma pessoa linda, inteira, corajosa, guerreira e delicada, como é o caso da minha tia e madrinha Marília Cunha. São de pessoas como essa mulher, que não se encolhe diante das fatalidades da vida, que o mundo precisa. São de pessoas assim, com essa generosidade, com essa facilidade de raciocínio e sensibilidade que precisamos, para sentir que ainda vale a pena viver e lutar por aqueles que não podem seguer se defender de tamanha barbaridade.
    Somente me resta fazer minhas as palavras de um autor desconhecido por mim, que disse:
    "Enquanto o homem não amar e respeitar um animal, ele sempre precisará de alguém que lhe ensine a amar o próximo".

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  4. Marília,
    As pessoas e os animais compartilham os ambientes desse planeta cada qual no seu respectivo nível de entendimento e certamente de evolução espiritual, mas todos juntos. Uns usando outros, animais ou não. De tal forma que é difícil compreender os objetivos dessa própria ecologia equilibrada que pode parecer injusta e desequilibrada a depender do ponto de vista e do conhecimento dos destinos dos bichos, das plantas, dos homens e de todos os demais elementos da natureza. Creio que se entendermos os objetivos dessa rinha e os resultados íntimos para cada um dos seus elementos, do papel de cada um, talvez fosse melhor para entendermos os desígnios do Criador. Mas nos falta nisso um elo, perdido para toda a humanidade. É o grande mistério da vida e da morte: de onde vimos e para onde vamos, ou ainda, para que existem os homens algozes e para que existem os galos, vítimas. Se os homens são algozes de outros homens que dirá de outros seres.Tudo isso são objetos de estudo de vários filósofos e algumas religiões já têm a convicção de conhecer a chave do mistério. Creio que ficaria mais leve o seu dilema se você aceitasse a realidade como é, lutando sempre para melhorá-la com sua luz, com seu sorriso, mas não seria possível que alguém chegasse de repente e com o conhecimento de que o amor é melhor bastaria instantaneamente para que o instinto de cada um alterasse a própria estrutura enérgica de suas almas. Altera sim, mas gradualmente, lento como o ritmo de crescimento das plantas e da evolução de tudo na natureza. Felizmente, algumas pessoas como você já possuem a felicidade de perceber a grandeza do amor e da paz entre os relacionamentos, mas um dia todos também terão a felicidade de ter bons sentimentos. Com certeza todos estão a caminho da luz e é melhor amar os que estão ao nosso nível, mas não podemos deixar de dar a mão para os que ainda estão a caminho dela ou que ficaram para trás no trabalho de desbastar a pedra bruta... Aliás, esse é o papel que você continua desempenhando como educadora! Parabéns por mostrar a luz a todos nós!

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  5. Senhor Natal, parece que o senhor conhece a natureza das coisas e assim é melhor para respeitá-la, inclusive o seu Criador!

    A autora Marília fez uma ressalva no começo que nunca foi a uma rinha de galos de briga. No meu caso, dos 7 aos 15 anos acompanhei meu pai nesse esporte – é como corrida de cavalos. Enquanto meu pai era quem aparelhava os galos na competição, eu era responsável pela cruza, criação, treinamento e recuperação após as brigas. Então vou tecer alguns comentários:

    1 - Na cruza tem ciência para escolher certo o par galo/galinha, pelo temperamento de cada um, para dar cada tipo de galo que se quer, se matador ou brigador. O matador em geral é covarde, se a briga demorar ele corre, então tem que ser calçado (assim como seu adversário) com faca (espora artificial) bem pontiaguda. A faca natural do galo é parcialmente cortada a ferro quente para encaixe da artificial. Por sua vez, os galos raçudos têm que brigar em arma grossa (ponta de +/- 3 mm de diâmetro) pra briga demorar, até um cair ou correr. Tem o limite de 2 horas, quando é dado o empate. Quanto às apostas, os donos fazem a aposta inicial, depois a torcida vai fazendo apostas avulsas. A rinha muito animada, uma gritaria igual a pregão de bolsa de valores. A briga dos batedores geralmente termina rápido e com a morte de um deles, quando um acerta o ouvido ou a nuca do outro. Eu criei dois galos campeões absolutos, de um guardo foto ao lado dele até hoje e tenho muita saudade! Matou dezenas de adversários, nunca demorando mais que 5 minutos. Era o Bolinha (pelo formato da crista); era branco acinzentado com as costas douradas, lindo! Um fdp de um garnisé no quintal cegou-lhe um olho e ele se tornou reprodutor apenas.

    2 - Quanto à natureza dos galos, é de uma única espécie, raça Índio. A índole mostram ainda pintinhos. Quando vão se separar da galinha eles brigam um com outro e se não se separar acabam se matando. Depois, quando jovens é que se faz a tosa e os exercícios físicos no sol da manhã para fortalecimento das musculaturas das pernas, asas (provoca-se seções de saltos com as mãos) e do pescoço (com o dedo indicador em rodopio). Os galos ficam todos prosas com cacarejos, atletas, doidos pra uma briga!

    3 – Após as brigas dão prova que a natureza deles é pra isso. Faz-se uma limpeza dentro e por fora, tirando o sangue e que fica do pescoço ao papo; insere-se água pelo bico e faz-se como uma aspiração boca-a-bico e com uma pena faz-se o acabamento da limpeza. Quanto à parte externa, normalmente chegam com umas 30 a 50 facadas que vão da cabeça ao peito (onde fica a maioria). Basta iodo e banhos de sol pela manhã. Em 2 ou 3 dias as facadas já estão todas secas e a vida normal. Os bons galos são tratados como verdadeiros campeões, bons estábulos, alimentação, sem falar na quantidade de galinhas que lhe são oferecidas pra reprodução.

    4 – Hoje, aos 58 anos, já tenho uma visão diferente. Acho que se poderia introduzir tecnologia em nessas competições. Uma idéia é de se fabricar armas de borracha, com chips que registrassem cada pancada e sua força. Ao final da competição, p.ex. de 15 minutos, se colocaria o chip num aparelho para aferição.

    Passo essa sugestão pra senhora que se preocupa com o caso, quem sabe encampa a idéia e divulga para alguma organização de proteção aos animais e negociam com os galistas, e, quem sabe, fazem essa encomenda a alguma universidade pra desenvolver esse equipamento.

    Abraço. Renan

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  6. Ao ler o comentário detalhado do Sr. Renan sobre as brigas de galo e a preparação dos coitados, fiquei ainda mais horrorizada com esta espécie de "diversão". Os galos gostam de brigar? É da sua natureza? Deixem então que eles briuem por conta própria. Qualquer maltrato aos animais, por diversão ou por dinheiro, é pura perversão. Nós, seres humanos, ainda temos que evoluir muito para conseguirmos respeitar e amar os animais como eles merecem.

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  7. Eu nunca vi uma rinha; não compactuo com rinhas, nem com corrida de cavalo, nem vaquejadas, nem com rodeios, muito menos com as matanças de animais em frigoríficos e granjas. Acho que a humanidade deverá superar essa fase quando compreender as suas consequências e tiver o domínio dos efeitos energéticos ocultos, especialmente quando a demanda acabar e a motivação econômica desaparecer. Felizmente as rinhas estão praticamente extintas no Brasil, mas alguns países ainda praticam com muita naturalidade e dizem que impedir os galos de lutar seria como impedir os pássaros de voar, em razão dos instintos desses animais, mas incentivar qualquer animal à violência é colaborar com a perpetuação de crueldades. Lamentável a infância do Senhor Renan...

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  8. Em princípio, este nome Renan não me cheira bem e, mal grafado, vira arena. Se um dia eu aparecer numa foto com um galo - será o de Quintino. A proposta dele, hoje amadurecida, é que se introduza tecnologia pra evitar apenas o trabalho humano na recuperação do animal. Minha proposta, ainda em amadurecimento, é que coloquem-se garras afiadas, tipo Volverine, nestas pessoas que maltratam os galos e coloque-os para degladiarem até a exaustão sanguinea de um. Ainda assim eu não quero ver.

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