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Castelos de papel, tela e areia

Mais do que nunca, é preciso cuidar para que a qualidade sempre exigida no jornalismo impresso se mantenha no jornalismo eletrônico

De Carlos Eduardo Lins da Silva, na Folha de S. Paulo, hoje:

OS TEMPOS são terríveis para os jornais impressos nos EUA e na Europa. A crise econômica acelerou o desgaste do modelo econômico dessa indústria nos países centrais do capitalismo e os efeitos são visíveis.

Na sexta-feira, circulou a última edição em papel do centenário e excelente "Christian Science Monitor". Na quinta, o "New York Times" anunciou corte de 5% por nove meses no salário de quase todo o seu pessoal, mais um gesto extremo para tentar melhorar suas contas, e o "Washington Post" deu partida a processo de demissões voluntárias.

Na terça, quatro cidades do Estado de Michigan, inclusive Ann Arbor, sede da Universidade de Michigan, souberam que este ano ficarão sem nenhum jornal impresso porque o único em cada uma delas (todos pertencentes a uma rede) vai deixar de circular.

Semanas atrás, dois tradicionais títulos, o "Rocky Mountain News" e o "Seattle Post Intelligencer" haviam deixado de rodar e passado a operar só na internet.

A Federação Europeia de Jornalistas, em atitude clara de desespero, pediu aos líderes dos partidos no Parlamento Europeu que os governos salvem os jornais impressos, "pedra angular da democracia europeia", segundo dizem no documento.

A administração Sarkozy, na França, já seguiu nessa direção com um pacote de 600 milhões de euros de socorro aos diários. Nos EUA, o senador Benjamin Cardin, democrata do Maryland, argumenta com seus pares que os jornais merecem tanto auxílio quanto os bancos.

Esse apelo ao Estado é um atentado contra o princípio essencial da independência, condição indispensável para o exercício do bom jornalismo. A sobreviver como apêndice de governos, é melhor perecer.

Apesar de todos esses indícios, e dos prenúncios sombrios para os jornais no mais recente relatório do "State of the News Media" (http://www.stateofthenewsmedia.org/2009/index.htm), o jogo ainda não está jogado nem lá nem muito menos aqui no Brasil.

Mas a tendência da migração do jornalismo do papel para a tela é irredutível, mesmo que as versões impressas se mantenham. Por isso, mais do que nunca, é preciso cuidar para que a qualidade sempre exigida no produto impresso se mantenha no eletrônico.

Esta semana, na cobertura da Operação Castelo de Areia, a versão on-line da Folha deu uma derrapada feia, em decorrência de vícios estruturais dessa plataforma: a pressa em colocar no ar informações e a frouxidão dos controles.

Das 8h41 às 10h30 de quinta-feira, a terceira chamada da página inicial da Folha Online tinha um título errado ("PT pode ser investigado por doações da Camargo"), sem nenhuma base nas informações disponíveis. O erro, que não apareceu no jornal impresso, foi corrigido e o título mudado.

O rigor e o cuidado imprescindíveis no jornal impresso devem ser obrigatórios no eletrônico. As sociedades democráticas podem até sobreviver sem jornalismo de papel, mas sem jornalismo independente serão castelos de areia.

Um comentário:

  1. O jornal impresso não pode acabar. Ele é bom, inclusive, pra forrar piso em pintura, embrulhar ovos e limpar vidros.

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