Argentina bicentenária. Por Inocêncio Nóbrega
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Inocêncio Nóbrega
Jornalista
Inocnf@gmail.com
Argentina, duplamente bicentenária. A primeira vez em 2010, para comemorar a Revolução de 25 de Maio, há 200 anos, movimento liderado pela elite de Buenos Aires. Instaurava-se a Junta Governativa local, que tinha como diretriz central o enfrentamento à antiga metrópole, Espanha. Nesse sentido propôs-se criar a Confederação das Províncias Unidas do Prata, porém ante resistência de algumas províncias, fracassa. Uma segunda tentativa o Congresso Geral de Tucumán, a 9 de Julho de 1816, quando aflora a posição firme de José de San Martin, busca superar essa situação de emergência. Estrategista militar sem igual organizou o exército libertador, não dando tréguas aos espanhóis. Ele influiu, decididamente, na consolidação da declaração de independência de Tucumán, que os “hermanos” vizinhos acabam de comemorar.
Não houve, entretanto, o esperado ufanismo nos atos oficiais, a que compareceu representante do governo brasileiro. O país portenho, tal como o nosso, vive mergulhado numa crise de moralidade sem precedentes, além de econômica e política. Seu mandatário maior, Maurício Metri, nada a ver com seu quase homônimo Mitri (1862-68), nem com Hipólito Yrigoyen, eleito, precisamente, há um século, envolve-se no escândalo internacional Panamá Papel, acima disso sócio-diretor de empresas sediadas nas Bahamas e no Panamá. Por seu turno, ascendendo à chefia do Brasil por um processo golpista, Michel Temer, e ele próprio, cercado de corrutos, compartilha com seu colega pela acusação que a ele é feita de informante dos EUA das ações de governo do ex-presidente Lula.
Brasil e Argentina tiveram de enfrentar, duramente, o luso-espanholismo no curso do domínio colonial, até alcançarem suas autonomias. Houve diferençasestratégicas, no concernente à formação territorial, com várias regiões, apesar de manterem identidade ideológica, mirando a conquista da independência. Argentinos e brasileiros optaram pela República, cujos efeitos foram incontestes, com dirigentes propensos à classe trabalhadora e plataformas sociais definidas, conforme os princípios da Revolução de Maio, e os demais seguindo degenerados, aceitando o entreguismo como norma. As ditaduras de ambos não mentem.
Diante de tais reminiscências entendemos a tristeza do bravo povo argentino, frustrado e arredio aos festejos. Assim, a população brasileira, neste momento de afronta aos preceitos morais da vida pública, sem distinção de poderes, também sente a ausência de um projeto geopolítico regionalista, calcado na carta de preceitos do Congresso de Tucumán e no protagonismo de nossos heróis, a partir de Tiradentes. A história não perdoará as traições.
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