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Sobre o jornalismo definhando

Escrito por Adalberto Piotto (*)

A crise econômica é terrível e os donos de veículos de comunicação não são os seres mais altruístas do mundo. Sabemos todos disso. Mas uma reflexão mais aprofundada sobre o caos das redações se faz necessária. Daí, pergunto:

Quanto de responsabilidade têm as próprias redações que abriram mão do jornalismo sério em nome do entretenimento disfarçado de jornalismo? O que o público procura no jornalismo senão seriedade ao dar noticias e no fazer análises? O que ele tem hoje da imprensa, sobretudo a eletrônica? Sinceramente...

Parte imensa das redações comandadas por uma orda de jornalistas com MBA - de sei lá o quê - burocratizou as relações, imprimiu procedimentos de produção em série, desvalorizou - e afastou - os jornalistas experientes e condenou os jovens jornalistas, sem referências, a continuarem juniores pela vida toda. Uns poucos muito talentosos se salvam, a maioria oscila entre o amadorismo e a arrogância.

E sobram nas chefias e editorias de hoje jornalistas másteres de gestão, que afundam as redações, e estagiários sem conhecimento de história, ciências políticas, filosofia e, sim, paixão. Deu no que tinha de dar.

Um jornalista e um veículo, sobretudo os eletrônicos, insisto na ênfase, se constroem sérios para só depois se darem o direito de suavizar em alguma coisa. Mesmo que fiquem descontraídos no noticiário, serão sérios descontraídos. Nunca anedóticos sem credibilidade tentando passar seriedade, como vejo muitos jovens jornalistas - e outros nem tão jovens - se prestando a esse papel, dirigidos que são por chefes ou diretores despreparados ou que abandonaram o jornalismo por benesses do mundo corporativo.

As redações que hoje definham foram desacreditadas por erros dos próprios jornalistas que as comandam e as fazem. Entre um jornalista tentando fazer entretenimento ou graça e um humorista ou profissional da área fazendo o que sabe, com quem ficam o público e as verbas publicitárias?

Os jornalistas, que cederam por conveniência ou falta de compreensão do que é a profissão, perderam a essência do ceticismo que os faria desconfiar das mudanças lá trás. Acharam-se artistas. Resultaram mambembes no circo e nas redações.

Deram uma barrigada, como se costumava dizer quando se publicava uma notícia ruim, irrelevante ou inverídica. Perderam a essência do jornalismo. Não adquiriram a da arte. Estão perdendo a oportunidade de continuar jornalistas.

Xô, jornalistas tentando ser humoristas! Tragam de volta os sérios, fuçadores, investigativos, analistas bem formados e informados, entrevistadores preparados e competentes. O público, a publicidade e os empregos voltarão junto.

(*) Adalberto Piotto é jornalista formado pela Universidade Metodista de Piracicaba com especialização em economia pela Fipe-USP. É diretor e produtor do filme-documentário Orgulho de Ser Brasileiro (2013), de sua autoria, que disseca o estilo de ser do brasileiro com todas as suas nuances e oscilações de sentimento enquanto cidadão. De 1999 a 2011, foi âncora da CBN em São Paulo, onde começou como repórter. Em 2014, de julho até o início de dezembro, foi âncora do ‘Jornal da Manhã’, noticiário transmitido pela Jovem Pan. É palestrante nas áreas de economia, realidade social brasileira e jornalismo.

(**) Artigo enviado pelo Portal Comunique-se

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