Iluminando o futuro e o passado
Neiton de Paiva Neves
(Artigo publicado originalmente na revista Evidência)
Décadas atrás, C. W. Ceram (pseudônimo adotado por um ex-militante nazista, para escapar do rótulo), em seu interessante livro Deuses Túmulos e Sábios, apresentou-me a Pedra da Roseta e o homem que a decifrou, Jean François Champollion.
Com pouco mais de um metro de altura, menos de 80 centÃmetros de largura, cerca de 30 de espessura, pesando 760 quilos, a pedra tinha escrita que ninguém entendia, foi achada em 1799 no Egito por um soldado de uma expedição do exército de Napoleão Bonaparte, depois apreendida pelos ingleses e está hoje no British Museum de Londres.
Apesar de muitas tentativas para identificar significado do que nela estava escrito, só em 1822, o francês Jean-François Champollion conseguiu desvendar, constatando que se tratava de um só texto escrito em 3 lÃnguas (grego antigo, grego demótico e sinais de escrita usada por antigas civilizações, no caso, os hieróglifos), de modo que conhecendo uma, e ele dominava grego, por comparação foi possÃvel saber quais as letras ou sinais correspondentes das outras.
A descoberta possibilitou entender os tais hieróglifos, até então um mistério inacessÃvel, e, em decorrência, o conhecimento e a compreensão da história de um perÃodo de quase mil anos do antigo Egito, seus faraós e rainhas (inclusive Cleópatra, a mais famosa delas), e de outros povos que o governaram, como os macedônios, romanos, gregos, cristãos coptas, muçulmanos e otomanos.
Dias atrás, com alguma licença poética, o cinema me apresentou a história do matemático inglês de 27 anos, Alan Turing, que durante a Segunda Guerra coordenou um pequeno grupo montado em Londres com a missão de decifrar a Enigma, máquina responsável pelo considerado indecifrável código que os nazistas alemães utilizavam entre suas tropas para comunicar secretamente seus planos de ataque.
Enquanto os companheiros tentavam decifrar traduzindo as mensagens em código que os nazistas mudavam a cada dia, Alan Turing criou e construiu também uma máquina que decifrou o funcionamento da Enigma e deslindou o código que produzia.
Segundo a história, a máquina de Alan Turing antecipou em cerca de dois anos a duração da guerra, salvou mais de um milhão de vidas e foi precursora da hoje comum e disseminada máquina chamada computador.
O filme que conta a episódio é inglês e dirigido pelo norueguês Morten Tyldum, chama-se O Jogo da Imitação e concorreu ao Oscar em várias categorias, inclusive a de melhor ator, o ótimo Benedict Cumberbatch. Mas, com raras exceções e não é novidade, o Oscar premia a indústria e não a qualidade, só ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, pois seu apelo comercial é menor do que o dos demais concorrentes. Alguns até bons, mas nada além.
Meu eventual leitor que chegou até este final poderá indagar o que Champollion tem a ver com Alan Turing? Deixo de responder, porque a nova chefe da revista é rigorosa, sou obediente e meu espaço acabou.
Em tempo: Ôpa, a chefe acabou me concedendo mais algumas linhas! Aproveito, apontando a coincidência histórica que foi a presença dos nazistas na vida do autor do livro acima citado, que foi um deles, e na vida de Alan Turing, que ajudou a derrotá-los. Também, o fato de Champollion e Turing terem sido crianças e jovens prodÃgios e de terem morrido cedo, com 42 e 41 anos, respectivamente. Sem esquecer que ambos iluminaram o passado e o futuro, como poucos fizeram.
Aos agraciados com o precioso dom da ânsia de conhecer o que não conhece, sugiro ler o livro e assistir ao filme. Com certeza, não se arrependerão.
(Artigo publicado originalmente na revista Evidência)
Décadas atrás, C. W. Ceram (pseudônimo adotado por um ex-militante nazista, para escapar do rótulo), em seu interessante livro Deuses Túmulos e Sábios, apresentou-me a Pedra da Roseta e o homem que a decifrou, Jean François Champollion.
Com pouco mais de um metro de altura, menos de 80 centÃmetros de largura, cerca de 30 de espessura, pesando 760 quilos, a pedra tinha escrita que ninguém entendia, foi achada em 1799 no Egito por um soldado de uma expedição do exército de Napoleão Bonaparte, depois apreendida pelos ingleses e está hoje no British Museum de Londres.
Apesar de muitas tentativas para identificar significado do que nela estava escrito, só em 1822, o francês Jean-François Champollion conseguiu desvendar, constatando que se tratava de um só texto escrito em 3 lÃnguas (grego antigo, grego demótico e sinais de escrita usada por antigas civilizações, no caso, os hieróglifos), de modo que conhecendo uma, e ele dominava grego, por comparação foi possÃvel saber quais as letras ou sinais correspondentes das outras.
A descoberta possibilitou entender os tais hieróglifos, até então um mistério inacessÃvel, e, em decorrência, o conhecimento e a compreensão da história de um perÃodo de quase mil anos do antigo Egito, seus faraós e rainhas (inclusive Cleópatra, a mais famosa delas), e de outros povos que o governaram, como os macedônios, romanos, gregos, cristãos coptas, muçulmanos e otomanos.
Dias atrás, com alguma licença poética, o cinema me apresentou a história do matemático inglês de 27 anos, Alan Turing, que durante a Segunda Guerra coordenou um pequeno grupo montado em Londres com a missão de decifrar a Enigma, máquina responsável pelo considerado indecifrável código que os nazistas alemães utilizavam entre suas tropas para comunicar secretamente seus planos de ataque.
Enquanto os companheiros tentavam decifrar traduzindo as mensagens em código que os nazistas mudavam a cada dia, Alan Turing criou e construiu também uma máquina que decifrou o funcionamento da Enigma e deslindou o código que produzia.
Segundo a história, a máquina de Alan Turing antecipou em cerca de dois anos a duração da guerra, salvou mais de um milhão de vidas e foi precursora da hoje comum e disseminada máquina chamada computador.
O filme que conta a episódio é inglês e dirigido pelo norueguês Morten Tyldum, chama-se O Jogo da Imitação e concorreu ao Oscar em várias categorias, inclusive a de melhor ator, o ótimo Benedict Cumberbatch. Mas, com raras exceções e não é novidade, o Oscar premia a indústria e não a qualidade, só ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, pois seu apelo comercial é menor do que o dos demais concorrentes. Alguns até bons, mas nada além.
Meu eventual leitor que chegou até este final poderá indagar o que Champollion tem a ver com Alan Turing? Deixo de responder, porque a nova chefe da revista é rigorosa, sou obediente e meu espaço acabou.
Em tempo: Ôpa, a chefe acabou me concedendo mais algumas linhas! Aproveito, apontando a coincidência histórica que foi a presença dos nazistas na vida do autor do livro acima citado, que foi um deles, e na vida de Alan Turing, que ajudou a derrotá-los. Também, o fato de Champollion e Turing terem sido crianças e jovens prodÃgios e de terem morrido cedo, com 42 e 41 anos, respectivamente. Sem esquecer que ambos iluminaram o passado e o futuro, como poucos fizeram.
Aos agraciados com o precioso dom da ânsia de conhecer o que não conhece, sugiro ler o livro e assistir ao filme. Com certeza, não se arrependerão.


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