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Segredos e intrigas, por Neiton de Paiva Neves

Neiton de Paiva Neves *  

Se você achava que ainda existia segredo nesse mundo, deve ter se assustado com a denúncia de Joseph Snowden,  ex - analista do serviço de inteligência americano, a respeito de projeto confidencial de vigilância eletrônica dos governos dos Estados Unidos e Reino Unidos.
   
Trata-se, como amplamente divulgado, do projeto de monitoramento global, denominado PRISM, que espionou (será que não mais?) as conversas telefônicas e transmissões na Internet de cidadãos dos EUA e de outros países, inclusive do Brasil.
   
Isso significa que as minhas e as suas conversas pelo telefone, os e-mails enviados, os assuntos postados no facebook, twitter, orkut e similares,  estão vulneráreis, expostos, acessíveis.
   
Nada de privacidade, o que falamos e digitamos na intimidade de nossa casa, de nosso local de trabalho ou em qualquer lugar, no telefone fixo ou no celular, no computador, seja desktop, notebook, ou tablet,  chega ao conhecimento de pessoas em todos os lugares, sem exageros. Basta que os senhores da espreita queiram.
   
Está certo que hoje tudo é em tempo real e em escala universal, mas espionagem sempre existiu como recurso usado em todas as atividades humanas, na guerra entre países, nas disputas industriais, comerciais, de negócios, de trabalho, sociais, entre pessoas e em especial entre casais desconfiados e ciumentos etc..
   
A espionagem é antiga e atual, tanto quanto a intriga que costuma ser seu combustível e sua finalidade.
   
Veja-se recente episódio ocorrido aqui, no qual  integrante do governo municipal foi atacado por e-mail apócrifo, certamente pensando seu ou seus autores estarem protegidos pelo anonimato. Enganaram-se e,  dizem as notícias, logo a tecnologia que pensavam acobertá-los, acabou por revelar quem são.
   
Eu mesmo já fui vítima de algo semelhante e muito menos grave um ano atrás, quando criaram uma conta de e-mail em meu nome, e mandaram mensagem falsas, como se fossem minhas.        
   
Graças à tecnologia, também logo descobri quem foram as pessoas responsáveis por esse ato menor de oportunismo e falta de escrúpulos. Pensei em tomar medidas legais drásticas, mas resolvi adotar a postura  que Jorge Amado descreve assim em seu livro Navegação de cabotagem:
   
Quando um tipo vai além de todas as medidas e de fato me ofende, já com ele não me aborreço, não fico enojado ou furioso, não brigo, não corto relações, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério — nele não existem jazigos de família, túmulos individuais, os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrarice, do mau-caráter. Para mim o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça já não pode me magoar.
   
Raros enterros — ainda bem! — de um pérfido, de um perjuro, de um desleal, de alguém que faltou à amizade, traiu o amor, foi por demais interesseiro, falso, hipócrita, arrogante — a impostura e a presunção me ofendem fácil. No pequeno e feio cemitério, sem flores, sem lágrimas, sem um pingo de saudade, apodrecem uns tantos sujeitos, umas poucas mulheres, uns e outras varri da memória, retirei da vida. Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, às saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado.
(11/02/13)

* Advogado

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