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Dia da Mulher

Marília Alves Cunha

Vai bem longe o dia em que Schopenhauer, filósofo alemão do séc. XIX escreveu: “A mulher  é um animal de cabelos longos e idéias curtas”. Para ser sincera, algumas parece que teimam em não contrariar o filósofo. Longe também as mulheres da Antiga Grécia, nas quais Chico Buarque exortava a que mirássemos, em mágico e lindo poema:  mulheres “que temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas, secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas”. Aliás, os homens atuais não são guerreiros forjados a ferro e aço, dispostos ao heroísmo e a morte em guerras. Não há necessidade... No mundo moderno aperta-se um botão e tudo vai pelos ares. E as mulheres costumam secar sim, à custa  de dietas milagrosas ou coisas piores, já que a ordem do dia é ser magra e bonita a qualquer preço, para acompanhar o padrão de beleza estipulado como ideal.

Não há dúvidas que progredimos bastante desde os tempos de nossas avós. As mulheres vão ocupando espaços na política, nas Universidades, nas empresas, nas artes, nas profissões liberais e à medida que crescem  se apossam de lugares seus de pleno direito, pois para isto houve uma conjugação de esforço, vontade e luta contra preconceitos e discriminações que já não podem mais fazer parte do dia a dia de qualquer país que se pretende civilizado. Apesar disto, ocorrem constantemente fatos estarrecedores e chocantes de violência  contra a mulher. A Lei Maria da Penha, ao completar sete anos, parece ser ignorada pelos agressores que passam por cima de todas as medidas protetivas  que pretendem coibir a violência doméstica. Mulheres continuam sendo presas fáceis de homens possessivos, ciumentos, que induzem ao terror e insegurança com promessas de vingança e sofrimento, homens que não aprenderam a respeitar e amar as mulheres e só conseguem entender o código da brutalidade, da macheza que esconde complexos e frustrações, da força bruta, sinônimo de tibieza de caráter e personalidade.

Hoje em dia as mulheres denunciam mais os maus tratos, talvez pela criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, talvez até pelo desespero de sentir e ver que sua vida transformou-se num inferno, que não existe mais saída, que se esgotaram todas as desculpas, que é preciso o grito de socorro que as tire de um martírio  prolongado, que as aniquila, que pode matar ao final. Determinações legais para proteger as vítimas e afastar agressores existem, mas para terem eficácia devem ser usadas ao extremo. Caso contrário, a impunidade que, parece,comanda este país,  passará incólume, perpetuando a destruição das famílias e a morte violenta de mulheres por covardes agressores.

Gosto muito de ser mulher, independente, livre para escolher caminhos. Mulher que ama, ri com vontade, chora copiosamente por um filme triste, por uma música, por um animal que sofre, por um amigo que parte e até, às vezes, ao contemplar um entardecer tristonho, quando flores se fecham e pássaros procuram abrigo. Mulher frágil e forte, meiga e agressiva, mistura corajosa e doida de emoções e sensibilidade, capaz de lutar com a força de um leão pelo que ama e crê, capaz de gestos impressionantes de doação, compreensão e ternura. Feminina, sem perder a ousadia, sem perder a juventude que teima em permanecer na alma, apesar da passagem do tempo e das marcas que vai deixando...

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