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É um país sério?

Marília Alves Cunha

Pagamos os nossos impostos, que são escorchantes, de maneira correta, tudo a tempo e à hora, como fiéis que pagam promessas difíceis   e que não podem ser postergadas sob pena de duros castigos dos céus. O retorno esperado e devido   nunca chega, ou chega capenga, mirrado, discricionário, deixando imensa parte da população a ver navios.

    Vemos isto claramente quando pagamos por segurança e vivemos sob o signo do medo. Encolhida, desconfiada, murada em suas casas ou presa nos carros, trancada no direito de ir e vir, a população vê a liberdade acenando ao longe como se fosse miragem, liberdade que não se desfruta e que se torna palavra vazia quando não existe a hipótese  de se viver com tranqüilidade e espontaneidade.  Liberdade que perde o fôlego num país onde juízes, promotores, são ameaçados de morte por pessoas que intentam continuar o controle marginal e criminoso do nosso Brasil. Onde a polícia sofre ataques violentos de organizações criminosas e a população se vê à mercê da desordem e do caos.

     É um estranho país este, onde criminosos com extensa ficha circulam pelas ruas, onde assassinos não cumprem pena, protegidos por leis esdrúxulas e poderosa advocacia. A violência no Brasil já não tem parâmetro e se torna difícil a sua involução, desde que pouco se faz para tratá-la como merece.

     Estranho país este em que a corrupção chega a níveis inacreditáveis e  vence os mais fortes obstáculos. Enquanto milhares e milhares de trabalhadores são derrotados por suas virtudes, muitos vivem à custa de crimes. Os corruptos assaltam diretamente o povo. Roubam dele o  direito á educação, segurança, a uma vida  digna. Dão-nos grandes e tristes lições: ensinam que é necessário ficar “esperto” para sobreviver, que a justiça tem dois pesos e duas medidas,   que a impunidade foi inventada para proveito maior dos poderosos e que pagar impostos infelizmente é um sacrifício inútil, pois o dinheiro público é pessimamente usado pelos governos.

     Não é um país sério! Vemos isto claramente quando os gastos governamentais superam todas as expectativas e as despesas alçam vôo com cartões corporativos, verbas indenizatórias milionárias,   funcionários fantasmas, desperdício de verbas com projetos e obras inacabadas, o indigitado nepotismo (que teve início em passadas eras, quando Caminha pediu ao Rei emprego para seu genro), criação de cargos públicos comissionados para atender aos milhares de apadrinhados políticos que gravitam em torno do poder como abelha na flor.

     Clama aos céus a desatenção ao problema das drogas, mal que dizima nossos jovens e torna doente a sociedade em que vivemos. Clama aos céus a imperturbável indiferença   com que se trata o problema do menor abandonado, do menor infrator. É um Brasil nada carinhoso este que abandona nossa juventude a sua própria sorte.  Cuspimos num bandido menor, desejamos a ele todas penas do mundo e nos revoltamos com suas bravatas. E ao mesmo tempo aceitamos congressistas que se corromperam, agraciamos com altas funções  exploradores do povo e os aplaudimos muitas vezes. E nem nos escandalizamos mais com os acontecimentos que envolvem nossa classe política e empresarial, apenas mais (um em meio a tantos) que se perderá mo meio do “imbróglio” em que se transformou este Brasil. Aqui as coisas são um pouco diferentes: “a justiça tarda – e falha- e a injustiça talha e não se farta”. Afinal de contas, este não é um país sério.

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