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Ser padeiro é o bicho

Aristeu Nogueira Soares

Nada de sócio - só ócio!

Que se dane o padeiro e renasça o cronista...

Minha última postagem por aqui foi em primeiro de agosto. Morri? Sumi? Desaprendi a escrever? Não. Nada disso. Virei padeiro, na realidade pandeiro, pois nunca apanhei tanto.

Na última postagem, denominada "Maré Braba", falava eu de minha situação calamitosa. Gente, quando tudo parece estar ruim é sinal de que ainda vai piorar ainda mais. Quando se vê uma luz no fim do túnel é porque o trem vai te atropelar. Quando se está no fundo do poço é sinal de que terra ainda desabará sobre sua cabeça.

Em meados da década de setenta eu trabalhei na Super-Pão, na Praça Manoel Bonito. Era uma padaria linda, uma lanchonete diversificada, uma sorveteria multi sabores, uma confeitaria mágica. Turnos que funcionavam perfeitamente. Era esta minha ótica, mas é um negócio muito complicado.

Um amigo, responsável direto por esta minha ausência internética e do mundo em geral, me convidou pra participar, meio a meio, de um negócio deste (Neste momento a madeira da mesa faz toc-toc-toc sob meu punho cerrado) e eu fui.

Instalamo-nos num imóvel velho, multado pela vigilância sanitária e fomos realizar sonhos. Padaria produz sonhos sem que ninguém durma.

Não vou falar do assédio do poder público nem dos amigos que queriam comer de graça.

O lucro, quando existe, é pouco ou quase nada pelo tanto que se trabalha. Até Jesus teve prejuízo, pois fez pão pra sobrar. Aliás, Ele foi o maior dos padeiros, mas pedia pão ao Pai, pois, com certeza, não queria fazê-lo. Há quem diga que Ele fazia pão da pedra e eu, ao contrário, faço do pão uma pedra.

Durante minha vida militar sempre acertei na mosca, mas na padaria não acertei sequer uma. Os olhos dos clientes são de lince, pois descobrem uma mosca escondida em qualquer cantinho do balcão e, impiedosamente, com o dedo em riste, brada com o infeliz do padeiro: - Credo! Uma mosca. Que nojo! Faça alguma coisa.

Tudo isto como se tal inseto não fosse invencível. As moscas sempre existiram apesar dos padeiros e baygons.

Fiquei um lunático. O pouco que ressonava usava toca e luvas. O ser humano tem mais nojo do ser humano do que de moscas ao varejo.

Acho que vou abrir um buteco de quinta, pois ninguém olha a validade de uma cerveja e, se aparecer alguma mosca, ainda fazem-na de tira-gosto.

O pão de míseros centavos é muito exigido. Tem que ser fresquinho. Tem que ser quentinho. Tem que ser moreninho. Tem que trincar.

Dizem que pão engorda, mas é mentira. Eu, diuturnamente nesta padaria, perdi muitos quilos. Pão fora do ponto ou caído era meu principal cardápio.

Perdi tempo, trabalho, dinheiro, crônicas e ainda abandonei meu sócio que depositava fichas na minha competência. A gente não é obrigado a prosseguir em tudo. Eu não sou teimoso. Minha opinião é volátil, mas de uma coisa eu tenho certeza: O forno de uma padaria deve ser o último degrau para entrar no inferno. Estou fora, mas ainda continuo com meus demônios tendo que comer o pão que o diabo amassou. Então o padeiro é o diabo?

Um comentário:

  1. Sempre gostei de entrar em padarias: um cheirinho bom e releta de coisas gostosas... Nunca pensei que ser padeiro fosse esta tortura... Cheguei à seguinte conclusão: O Aristeu não tem vocação para ser padeiro. Tem que continuar escrevendo estas coisas criativas e surrealistas que ele escreve, para "dê leite" de todos nós...

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