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Raul Belém e o telegrama assustador


A história abaixo foi contada pelo jornalista Sebastião Nery, no jornal Diário de Pernambuco, na edição deste sábado, 10 de julho de 2010. Em sua narrativa, Nery revela fato ocorrido com o então deputado estadual araguarino Raul Belém (1938-2001), que caracteriza bem o clima de repressão reinante no Brasil na década dos anos 60 do século passado, após a Revolução de 1964, que implantou a ditadura militar no país.

Confira a crônica:

"Raul Belém, de Araguari e do MDB, tinha 28 anos e um mandato: deputado na Assembleia de Minas, eleito em 1966, líder da oposição. Em 1969, no AI-5, Raul foi cassado. Chegou à Assembleia um telegrama oficial para ele. Pânico. Ninguém abriu, ninguém tocou.




O presidente da Assembleia, Orlando Andrade, consultou sua assessoria para assuntos de segurança nacional e de medo, reuniu os pares em sessão ultra-secreta e decidiram mandar o telegrama para o governador, dentro de um envelope indevassável, carimbo preto: "CONFIDENCIAL".

Israel Pinheiro recebeu, abriu, viu o telegrama, fechou. O envelope perigoso, com o telegrama, foi encaminhado à Casa Militar, que pôs em outro envelope, lacrou e mandou ao comandante da ID-4, general Gentil Marcondes. Carimbo vermelho: "SEGURANÇA NACIONAL".

O general recebeu o volume e tocou a abrir envelopes. O de "segurança nacional" que dava para o "confidencial". O "confidencial", que dava para o telegrama oficial. E o general abriu o telegrama. Leu, chamou o ordenança e mandou entregar tudo a Raul Belém, em casa."

Era o presidente da Câmara parabenizando Raul pelo aniversário."


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Notas do Blog:
1. Raul Décio de Belém Miguel  (* 4/12/1938  +13/10/2001),  foi 
deputado estadual de Minas Gerais para a 6ª legislatura (1967 - 1971) , sendo cassado pelo AI-5 em 14 de março de 1969.  Enquanto esteve com os direitos políticos suspensos, Belém dedicou-se a atividades de produtor  rural e a empreendimentos imobiliários em Araguari, sua cidade natal. De volta ao cenário político, com o advento da anistia, Raul Belém elegeu-se no ano de 1982, Deputado Federal pelo PMDB e, durante a Legislatura 1983/1987, foi o Coordenador da Bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, Vice-Presidente e Presidente do PMDB em Minas Gerais, Membro do Diretório Nacional do PMDB, Membro da Comissão Coordenadora do Processo Sucessório do PMDB em Minas Gerais e Vice-Líder do Governo na Câmara dos Deputados. Em 1986 foi reeleito Deputado Federal Constituinte pelo PMDB de Minas Gerais e participou da Subcomissão da Questão Urbana e Transporte, da Comissão da Ordem Econômica, Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais, da Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. Em 1990 foi reeleito Deputado Federal pelo PRN, partido que presidiu no Estado de Minas Gerais. Em 1994 foi mais uma vez reeleito Deputado Federal pelo PFL, partido do qual foi Vice-Presidente Nacional. Durante sua existência, Raul foi uma forte referência para a política mineira e brasileira.

2. Sebastião Nery (*8/3/1932) é jornalista e político. Foi vereador em Belo Horizonte e deputado estadual na Bahia. Cassado em 1964 após o regime militar, retomou à política em 1982, quando elegeu-se Deputado Federal pelo PDT no Rio de Janeiro. Em 1985 lançou-se candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro, e foi vice-líder do PMDB de 1985 a 1987. Desde a década de 90, dedica-se exclusivamente ao jornalismo.

Um comentário:

  1. Conheci Raul Belém, final de 1965 quando fui trabalhar diretamente com ele,e deste então acompanhei sua trajetória ate 13 de outubro de 2001, quando ocorreu seu falecimento en Belo Horizonte.Afirmo o grande amor que tinha pelo araguarino. Era uma dedicação verdadeira e um amante eterno pela cidade.É verdade sim, que jamais deixou-se abater por labiritos ou dificuldades, quando mantinha uma atitude de comandante.Da cozinheira da república de estudantes onde morava em Belo Horizonte ao compadre e presidente da Republica Itamar Franco,o tratamento de carinho e preocupação era constante.
    Com os funcionários tinha a maior dedicação e foi um professor de Ideologia politica imensurável.Sou testemunha da sua luta na época da ditadura, quando sua cassação foi motivada pela fala do discurso (A LONGA NOITE DOS TRES ANOS) na Assembleia Legislativa do Estado de MG.Conheci Raul quando tinha a mesma idade do Raul Jose de Belém - 28 anos -Tenho certeza de que o filho será tão compromissado com sua cidade quanto o pai, e talvez até melhor porque hoje, há mais tecnologia e rapideZ para resolver os problemas do município.Podem ter a certeza que o filho herdou sim, a insistênciaq social do pai. Quem conviveu com Raul Belém jamais consegue esquece-lo pela seu carisma e sua personalidade marcante.

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