Chegada da ferrovia no município de Araguari completa 120 anos de história
Juscélia Abadia Peixoto e Aparecida da Glória Campos Vieira (*)
"A efetivação da Cia Mogyana de Estradas de Ferro em Araguary ocorreu no ano de 1896, possibilitando à localidade mineira e ao vizinho Estado de Goiás, a ligação ferroviária com a economia cafeeira, com grandes centros urbanos e com a região portuária.
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No dia 21 de abril de 1896, ocorreu a primeira operação de linha até Araguary, quando a locomotiva “Espírito Santo do Pinhal” transpôs a ponte metálica sobre o Rio das Velhas, atual Rio Araguari, penetrando pela primeira vez em território araguaryno.
A locomotiva estava repleta de pessoas e materiais, tendo em seus vagões operários e autoridades de Uberaba e Uberabinha. A obra que teve como empreiteiro Joaquim Santiago, ainda não estava findada até o local escolhido para a estação.
A ponte sob o rio foi fabricada nas oficinas Kelston Briga & Co. Pitsburgo,USA. Possuía 81 metros de comprimento e foi assentada sobre 4 pilares de 8,5 metros de altura e espessura de 2,5 metros x 7,5 metros, sendo o vão principal de 42 metros cada um.
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Esse primeiro ato da empresa Mogyana, ao cruzar os limites do município de Araguary, teve caráter experimental, sendo na verdade um teste de linha São Pedro do Uberabinha à Araguary.
Um texto publicado no Informador Comercial em 1960, resgata a dimensão do acontecimento para os moradores da cidade mineira:
“Apito que a cidade ouviu cheia de esperança. Naquele dia 21 de abril de 1896, a cidadezinha amanheceu toda enfeitada para o grande dia de festa (...) todo mundo trajando preto a rigor, fumando cigarrinho de palha nas comentações sobre o extraordinário acontecimento daquele dia (...) Aquela máquina era a esperança”...
Nos dias antecedentes e subsequentes ao teste da ferrovia, encontrava-se hospedada em Araguary a Sra. Augusta Fleury, autora do livro “Do Rio de Janeiro a Goiás”, no qual descreveu os detalhes de sua longa viagem entre estes Estados e a introdução dos trilhos no município mineiro.
A autora além de enfocar o acontecimento, relatou interessante panorama da cidade na época, como é apresentado a seguir:
“É uma cidadezinha ainda nova; as casas são todas de telha à vento; não há um só sobrado. A igreja data dos tempos coloniais; os santos, de colorido vulgar, muito vivo, parecem todos portugueses. O cemitério é um quadrado cercado por um muro branco. As sepulturas são rasas, tendo apenas uma cruz de madeira, onde se vê o nome do defunto. A grama cresce inculta , os animais lá entram ao seu bel prazer; um cemitério abandonado; enfim junto ao muro, do lado de fora, os tropeiros fazem fogo, não há respeito algum. No centro da cidade corre um riacho, que a divide em duas partes, de um lado tem o nome de Goiás, e do outro, de Minas. A cadeia é velha e se assemelha a uma casa de banhos. O povo é bom e muito agradável. O comércio pequeno, há uma padaria, uma sapataria, duas farmácias e algumas casas de comércio. A cidade está a 750 metros acima do nível do mar. Venta sem cessar e a poeira é horrível! Um pó pegajoso(...) Inaugurou-se a Estrada de Ferro durante nossa estada em Araguary. Imaginem a barulhada.Veio da roça não sei quanta gente para ver “o bicho que lança fogo e tem partes com o diabo”.
No mês de maio daquele mesmo ano, o Presidente da Câmara e Agente Executivo do município, Aurélio Antônio de Oliveira (gestão: 01 de janeiro de 1895 a 31 de dezembro de 1897), promulgou a Lei número 20, que destinou a importância de 4 contos de réis para os festejos da inauguração oficial dos trabalhos da Companhia Mogyana na cidade.
No dia 12 de setembro de 1896, a locomotiva a serviço de reconhecimento portando vagões, engenheiros e operários, chegou pela primeira vez à cidade de Araguary, no ponto marcado para a estação em fase de construção.
Imensa multidão aguardava a chegada do trem e às 16 horas, ouviu-se o primeiro silvo da máquina de ferro, que trazia uma bandeira e uma faixa : “Os Empreiteiros Saúdam o Povo de Araguary”.
No dia 13, foi inaugurado o telégrafo da Mogyana. No denominado “limpa-trilhos”, estavam os empreiteiros da obra: Joaquim Santiago, Giogo e Eduardo, além da Banda de Música, com a regência do maestro Franklin que alegrou o ambiente já festivo.
Em outubro de 1896, foi designado o primeiro Chefe da Estação, Alfredo Máximo de Paula Almeida e o primeiro telegrafista, José Garcia Rosa.
A inauguração definitiva da Cia. Mogyana de Estradas de Ferro, ocorreu a 15 de novembro de 1896 e o prédio da estação, ainda em fase de construção, foi edificado como programado em terreno doado pelo Poder Executivo.
A composição chegou à cidade no alvorecer do dia e a população foi acordada com foguetes e a banda de música de Franklin Almeida. Nas ruas havia várias bandeiras do Brasil e no Largo da Matriz (atual Praça Padre Nilo Tabuquini) o coreto foi usado para os discursos e o canto dos versos de Cherubino Forbino dos Santos.
Na Praça da Mogyana, outro coreto foi montado, destinado a recepção musical e às autoridades, nas quais destacavam o Secretário da Agricultura de São Paulo; Dr. Vieira Bruno; Dr. Nestor Rangel Pestana, representante do jornal Província de São Paulo (hoje Estadão) e o Presidente Dr. Francisco de Sales Oliveira Júnior. "
(*) Texto extraído do livro "A Ferrovia em Araguari" (Editora Kelps, 2012), de autoria das arquivistas e escritoras Juscélia Abadia Peixoto e Aparecida da Glória Campos Vieira. A obra é oriunda do trabalho desenvolvido pelas autoras no Arquivo Histórico e Museu "Dr. Calil Porto", divisão da Fundação Araguarina de Educação e Cultura (FAEC)
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