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Observações ocasionais

“Faça seus dias valerem as lembranças.”
(Bill Milton)

Marília Alves Cunha


Estava posta em sossego, num merecido “relax” depois da sessão de Pilates, quando meu olhar dirigiu-se para um muro, através da janela. Uma trepadeira artificial escorria pela parede, presa a um cestinho. Aboletados no enfeite, dois passarinhos – mãe e filhote – felizes da vida. A genitora a alimentar o pequeno e o pupilo apreciando guloso o que lhe punham no bico. Para não dizer que se abstiveram de fazer ninho, alguns galhinhos secos despontavam no cestinho, aqui e acolá. Impressionante, pensei! Até os passarinhos estão apelando para a lei do menor esforço, do mundo plastificado ou talvez, no caso do ninho aproveitado, aderindo ao propósito da sustentabilidade... O pior era a cascata de folhas de plástico emoldurando aquele lar feliz. O material insosso pontifica nos dias atuais e, mesmo para os passarinhos, foi motivo de atração.

      Lá fora corria a Av. Uirapuru. Bela avenida, mesclada de cores e aromas. Enormes fícus, sibipirunas e acácias coloridas de amarelo, flamboyants despencando em flores, ipês maravilhosos. Até mangueira e pé de jaca se viam por lá.  Fico sem entender a escolha dos passarinhos, optando por um mundo plastificado e sem vida. Modernismo no reino animal? Sinal precoce de adaptação a novos tempos onde o natural se extinguirá? Sei lá!

      Ao lado da minha casa passa uma avenida, com um canteiro central todo gramado. Muito bem cuidado, aliás. Os trabalhadores da Prefeitura, com seus uniformes azuis e bonés estranhos cumpriam sua tarefa: cortar a grama com cuidado, para que nenhum perigo se oferecesse a eles ou aos transeuntes. Da minha varanda apreciava o movimento. O calor era de lascar, o suor escorria pelos rostos dos funcionários e o trabalho pesado transformava faces em cenhos carregados. De repente, alguém sinalizou: hora do almoço. As máquinas pararam. Cada homem pegou sua marmita com expressão feliz e todos procuraram um canto para o descanso e a alimentação. Sentados à sombra e aproveitando o intervalo riam, conversavam, cantavam, alguns tiravam aquele cochilo “de barriga cheia”. Um deles chegou até a ensaiar uns passinhos de samba... Uma simples oportunidade, tão espontânea alegria... Coisa de gente que valoriza o que tem e usufrui com energia os bons momentos. 

      Observando fatos corriqueiros como este, sinto que a felicidade é cúmplice da simplicidade. Grandes e monumentais momentos são raros, pequenas e lindas coisas acontecem a todo instante, diante de nossos olhos: o prazer de apreciar a natureza, de olhar para o próximo e reconhecer nele suas virtudes, de beijar carinhosamente um filho, de demonstrar aos familiares e amigos que os ama muito e deseja-lhes todo o bem, de oferecer um presente, de deliciar-se com uma chuvinha fria depois de tarde calorenta, de responder ao sorriso de uma criança, de afagar um cãozinho, de dar uma gostosa gargalhada, de ler uma poesia e emocionar-se, de permitir-se sonhos, de abraçar com força a vida, bem maior que nos foi legado.

      Tiremos de nossos dias o melhor proveito, pois cada dia que vivemos é uma benção de Deus.  Façamos todo o possível para merecê-la.

3 comentários:

  1. Marília,

    Este seu texto foi a minha melhor mensagem de Natal e crença nos anos que hão de vir.

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  2. Simplicidade é felicidade
    Escrito por Paulo Franklin
    Sáb, 27 de Setembro de 2008 09:09
    Na vida, tudo o que é complicado tende a ser chato. Quando a vida é complicada ela se torna sem sabor, sem sentido. Não, a vida não é chata: nós é que a tornamos enfadonha. Viver é uma arte e como toda boa arte depende mais das mãos do artista que estará dando a forma a ela do que do material utilizado.
    Complicar a vida é a maneira mais fácil e rápida de ser infeliz. A infelicidade gosta de pessoas queixosas, sozinhas e de mau humor. Quem não suporta mais viver talvez precise avaliar sua maneira de enxergar a vida e de se relacionar com as pessoas. Tudo o que é simples é prazeroso. Onde existe simplicidade existe a felicidade.
    Ser simples vai além de querer ser pequeno: é não se comparar com ninguém e por isso considerar-se um ser único, sem desprezar aquele que é diferente de mim. A simplicidade parece muito com a generosidade: dou de mim para se encontrar no outro. Deixo meus desejos de lado para ir ao encontro das necessidades de alguém.
    Somos condicionados a enxergar mais o ostensivo do que o simples. Enganamo-nos classificando as coisas passageiras como indispensáveis para a nossa felicidade e desprezamos os pequenos prazeres da vida. Caímos na armadilha de correr atrás de uma felicidade de posses, onde quanto mais se tem mais infeliz se é.
    Quero ter tempo para enxergar as coisas simples da vida. Dizer para as pessoas o quanto elas são importantes pra mim. Olhar-me no espelho e ver aí alguém necessitado de atenção. Quero ter tempo para despertar em minha alma a importância de ser simples, sem complicar aquilo que pode ser resolvido de forma sensata.
    Vou vivendo e aprendendo que sou muito mais eu quando não coloco as coisas acima das pessoas. Nada é mais valioso do que um coração batendo junto do meu. Nada é mais importante do que o sorriso de uma pessoa que se identificou com o meu jeito de ser. Nada vale mais do que as pessoas que Deus colocou ao meu redor. E é graças a essas pessoas que hoje posso celebrar o dom da vida, com simplicidade, mas com muito amor.
    Paulo Franklin

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  3. Brilhantes observações!
    Já tive pensamentos semelhantes ao ver trabalhadores dormindo ou jogando dominó embaixo de árvores aqui em Brasília. Eu não soube (nem tenho talento para) verbalizar a felicidade existente, sobretudo, nas pequenas "coisas". Ainda bem que a Marília, com olhos magistrais, conseguiu captar e traduzir essas sensações.

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