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Algemas

Neiton de Paiva Neves

Fujo um pouco da rotina de meus escritos aqui. Como advogado, não atuo na área criminal. Entretanto, chamam a atenção as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal, a maior instância do país, que têm surpreendido pelo seu sentido afirmativo e ao mesmo tempo gerador de apreensão quanto ao cumprimento delas. Para não falar de outras reações que despertaram. Por exemplo, tome-se o caso da solução encontrada pela mais alta Corte do país (cujo presidente teve seu telefone grampeado clandestinamente, em absurda e criminosa ação policialesca) a respeito do uso de algemas. Em resumo, o STF decidiu que quem continuará decidindo se vai algemar ou não alguém é o mesmo policial que faz a prisão, sendo que, agora, está obrigado a explicitar as razões que o levaram a usar da coerção.

Em qualquer atividade ou profissão, na minha, na sua, na nossa, existem pessoas de bom senso, preparadas, com boa formação, equilibradas e psicologicamente estáveis, orientadas pelo respeito ao próximo e motivadas para uma vida apontada para o bem, ainda que em situações extremas.

Qualquer policial assim, pelas qualidades pessoais suas e pela sensatez e sabedoria, não colocava algemas em ninguém, a não ser que fosse absolutamente necessário. Qualquer policial assim, agora, com a decisão do STJ, continuará não algemando ninguém, mas continuará algemando todos se for forçado pelas circunstâncias, justificando-se, o que é absolutamente correto.

E existem pessoas que não são nada disso, pois são imprudentes, despreparadas, mal formadas, psicologicamente desequilibradas, orientadas pelo pouco caso com os outros e motivadas para uma vida apontada para o mal, em qualquer situação.

Qualquer policial assim, pelas suas falhas de caráter e pela sua ignorância, colocava algemas em todos, mesmo não sendo necessário. Qualquer policial assim, agora, com a decisão do STJ, continuará algemando todos, com ou sem necessidade, e encontrará razões para se justificar, o que é absolutamente errado.

Aí, vem à lembrança a frase do grande mineiro e então vice-Presidente Pedro Aleixo, que, em face da edição do AI-5 (13 de dezembro de 1968 e que autorizava prisões, cassação de mandatos etc., sem direito de defesa) perguntou: "E quem vai controlar o guarda da esquina"?

A polícia existe para proteger o cidadão e por aqui tem feito um bom trabalho, merecendo nosso aplauso e nosso reconhecimento. Na sua lida diária, o policial depara com pessoas de diversos tipos, desde o marginal perigoso que pode atacá-lo com violência e colocar em risco sua vida, passando pelo bandido de segunda, cuja reação ocorre em menor intensidade, até pelo inofensivo indivíduo que nenhuma reação tem. E pelo cidadão comum pego praticando uma infração e que pode reagir sabe-se lá como.

Em qualquer situação, uma coisa é certa: ninguém, nem de um lado e nem do outro, pode ser agredido ou sofrer qualquer ofensa física, psicológica, emocional. E os direitos e garantias individuais devem ser respeitados.

É difícil, mesmo para os mais bem dotados, combater o crime, zelar pela segurança geral, prender delinqüentes, impor respeito, orientar, garantir a tranqüilidade e a paz numa cidade, manter-se distante do abuso de sua autoridade, não se deixar corromper, não comprometer a imagem e o conceito da corporação a que pertence, esteja onde estiver, respeitando direitos e caminhando no equilíbrio.

É difícil, mas a maioria consegue. Muitos conseguem atuar como agentes do entendimento e da proteção, adeptos do diálogo, conquistando amizade e respeito das pessoas, incentivando a paz e evitando o conflito, ou, se este já existir, diminuindo sua intensidade. E, ao mesmo tempo, atuando com autoridade e rigor, quando a situação assim exige, angariando a gratidão e o reconhecimento pelo desempenho exemplar de sua missão.

Dentre policiais, civis e militares, tenho bons amigos. Uso deste espaço para prestar minha homenagem a todos eles. Em especial ao Comando e a todos os integrantes dignos de estar na 9ª Companhia Independente, da Polícia Militar, que comemorou quinze anos de bons serviços prestados a Araguari e na área de sua cobertura, ao qual desejamos se transforme em Batalhão dentro em breve.

Um comentário:

  1. Caro Dr Neiton,

    O negócio tá feio. Se o uso das algemas incomoda, devido meu grau de repulsa, que tal cortar as mãos destes ladrões do colarinho branco? Existe muita conversa de Polícia mal preparada, mas tenho mais medo de advogados bem preparados.

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